quarta-feira, 24 de setembro de 2025

BIM - O QUE É ?

 

BIM: O Futuro da Construção Digital em Portugal

O setor da construção está a atravessar uma profunda transformação digital e o BIM (Building Information Modeling) está no centro desta mudança. Mais do que uma tecnologia, o BIM é uma metodologia de trabalho que integra informação, pessoas e processos num modelo digital colaborativo. Em Portugal, esta abordagem começa a consolidar-se, impulsionada por normas, legislação europeia e pela crescente necessidade de eficiência e sustentabilidade.

Neste artigo, vamos explicar em detalhe o que é o BIM, como se relaciona com o software Autodesk Revit, o papel fundamental dos ficheiros IFC, quais as normas existentes em Portugal, e de que forma esta metodologia representa o futuro da engenharia e arquitetura.

O BIM (Building Information Modeling) pode ser definido como uma metodologia que utiliza modelos digitais para representar física e funcionalmente os elementos de uma construção. Ao contrário do CAD tradicional, que apenas representa linhas e geometrias em 2D ou 3D, o BIM inclui informação associada aos elementos – materiais, custos, vida útil, desempenho energético, fichas técnicas, e até informação para operação e manutenção.

Um modelo BIM não é apenas um desenho. É uma base de dados integrada que acompanha todo o ciclo de vida do edifício:

  • Conceção e projeto: facilita a coordenação entre arquitetos, engenheiros e projetistas.

  • Construção: fornece informação precisa para empreiteiros e fornecedores, reduzindo erros e desperdícios.

  • Operação e manutenção: permite ao dono de obra gerir o edifício de forma eficiente durante décadas.

Assim, o BIM representa uma evolução cultural e tecnológica, em que todos os intervenientes trabalham de forma colaborativa sobre um modelo único e federado.

O Autodesk Revit é um dos softwares mais utilizados para aplicar a metodologia BIM. Trata-se de uma ferramenta que permite criar modelos paramétricos inteligentes, em que cada elemento (pilares, paredes, portas, condutas, cablagens, etc.) possui informação detalhada associada.

O Revit integra várias disciplinas num só ambiente:

  • Arquitetura: modelação de espaços, fachadas, acabamentos.

  • Estruturas: cálculo e dimensionamento de elementos estruturais.

  • MEP (Mechanical, Electrical and Plumbing): sistemas de AVAC, hidráulica, eletricidade e telecomunicações.

Ao trabalhar com Revit, o projetista não cria apenas desenhos, mas sim um modelo de informação digital que pode ser exportado em diferentes formatos, incluindo IFC (Industry Foundation Classes), essencial para a interoperabilidade entre softwares de diferentes fabricantes.

O que são ficheiros IFC?

O IFC (Industry Foundation Classes) é um formato de ficheiro aberto e normalizado, desenvolvido pela buildingSMART International, que permite a troca de informação entre diferentes softwares BIM.

Em termos simples, o IFC funciona como uma “língua comum” entre aplicações. Enquanto o Revit utiliza o seu formato nativo (RVT), outros softwares como ArchiCAD, Tekla ou Allplan têm também formatos próprios. Para que todos possam partilhar modelos e informação sem perda de dados, utiliza-se o IFC como formato intermediário.

Características principais do IFC:

  • Formato aberto e não proprietário: qualquer empresa pode utilizá-lo sem pagar licenças.

  • Normalizado internacionalmente: aprovado pela ISO (ISO 16739).

  • Contém geometria e dados: inclui não só a forma dos objetos, mas também propriedades como material, fabricante, resistência, desempenho, etc.

  • Facilita a colaboração: permite que arquitetos, engenheiros e gestores de obra trabalhem em conjunto, mesmo usando softwares diferentes.

Este formato é fundamental para garantir que um projeto BIM não fica preso a um único fornecedor de software, promovendo a interoperabilidade e a longevidade dos dados.

Normas BIM em Portugal

Em Portugal, a implementação do BIM tem sido apoiada por normas e documentos técnicos alinhados com os referenciais europeus e internacionais. Algumas referências importantes incluem:

  • ISO 19650 (adotada como NP EN ISO 19650): norma internacional que define a gestão da informação em projetos BIM, desde a conceção até à operação do ativo.

  • NP EN ISO 16739: norma que oficializa o formato IFC como padrão internacional.

  • CEN/TC 442: comité europeu de normalização para o BIM, que influencia a adoção em Portugal.

  • Guia BIM da PTPC (Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção): documento que orienta a implementação prática do BIM em território nacional.

  • Norma Portuguesa NP 4512: relacionada com sistemas de gestão de ativos, aplicável em fase de operação, com ligação ao BIM.

Além das normas, destaca-se o roteiro de digitalização do setor da construção em Portugal, que prevê a utilização obrigatória do BIM em concursos públicos de obras de grande dimensão, alinhando o país com a diretiva europeia 2014/24/EU sobre contratação pública.

O futuro da construção será indissociável do BIM. As tendências apontam para um aumento da exigência em projetos públicos e privados, bem como para a integração com outras tecnologias digitais:

  • Digital Twins (Gémeos Digitais): réplicas digitais de edifícios ou infraestruturas, que permitem simular e monitorizar o seu comportamento em tempo real.

  • Construção 4.0: integração do BIM com IoT (Internet of Things), sensores, robótica e realidade aumentada.

  • Sustentabilidade: o BIM permite analisar o desempenho energético e ambiental dos edifícios, ajudando a atingir metas de neutralidade carbónica.

  • Automatização e inteligência artificial: processos como verificação de normas, geração de orçamentos e planeamento de obra poderão ser feitos automaticamente a partir do modelo BIM.

  • Maior obrigatoriedade legal: tal como já acontece em países como Reino Unido, Noruega e Espanha, espera-se que Portugal adote gradualmente a obrigatoriedade do BIM em todas as obras públicas relevantes.

BIM é muito mais do que uma ferramenta tecnológica: é uma nova forma de trabalhar, baseada na colaboração e na partilha de informação. O Revit é um dos softwares mais usados nesta metodologia, mas a verdadeira força do BIM está na capacidade de interoperar através do formato IFC, garantindo que todos os intervenientes comunicam de forma eficaz.

Em Portugal, a adoção do BIM está a crescer, sustentada por normas internacionais como a ISO 19650 e pela pressão da União Europeia para digitalizar o setor da construção. O futuro aponta para uma integração cada vez maior entre BIM, gémeos digitais e tecnologias emergentes, tornando a construção mais eficiente, sustentável e competitiva.

O desafio para profissionais, empresas e entidades públicas será acompanhar esta revolução digital, adaptando processos, investindo em formação e garantindo que o setor da construção em Portugal não fica para trás na corrida global da inovação.



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